o pais do futuro

O País do Futuro
Revista Barco e Cia
Jorge Nasseh – Dezembro 2012

 

o pais do futuroO Rei Ricardo VII da dinastia Tudor, coroado rei da Inglaterra em 1485, não esperava que um dia o plebeu de flandres Perkin Warbeck o desafiasse cara a cara para usurpar seu trono. O plebeu tenta se passar por Ricardo de Shrewsbury, Duque de York, irmao de Eduardo V, ambos brutalmente assassinados quando eram apenas criancas na torre de Londres, a mando do seu tio Ricardo III, ele quase conseguiu o seu intento.

o pais_do_futuroEnquanto Perkin era prisioneiro na torre, a mãe de Ricardo VII, Margareth de Richmond, em uma noite decisiva, chegou para ele e disse: “Meu filho, você não foi culpado pela morte dos pequenos príncipes Ricardo e Eduardo, mas esta é provavelmente a noite mais difícil que nossa dinastia vive. Onde tudo parece estar sob trevas e sem esperanças. Sem você tomar, agora, a decisão que nossa dinastia precisa, nada vai sobreviver. Este plebeu Perkin é o seu teste!”. A dinastia Tudor sobreviveu por mais e 100 anos. Perkin, o plebeu, foi enforcado ao melhor estilo inglês.

Em alguns episódios decisivos de nossas vidas, chega uma hora onde somente o enfrentamento direto produz algum efeito. Depois de 8 anos propagandeando ser o país do futuro e tentando colher sem muito sucesso dinheiro de fora a situação de países como o Brasil, que apesar de já terem entrado no rol de emergente, tendem a permanecer confinados para sempre ao seu pequeno e restrito círculo de influência. Ou seja, nunca serão dinastias globais. Parece que Brasil e outros visam somente a permanecer como grandes economias regionais, a menos que ocorra um grande milagre.

Muitas indústrias, inclusive de construção de barcos e iates, que tem planos de instalação no país há alguns anos, não tem se mostrado contentes com a baixa taxa de crescimento, que este ano não irá passar de 1%, o que acabou frustrando grande parte dos investidores que fizeram suas apostas aqui. Os custos de financiamento, embora tenham diminuído, ainda são terrivelmente altos, existe muita burocracia e o processo tributário é complexo demais, mesmo para os brasileiros.

Muita gente ainda aposta em uma reviravolta com os eventos esportivos de 2014 e 2016, capitaneados pelos investimentos do governo, através de coleta de impostos. Não existe dúvida que esses grandes eventos vão ser um atrativo como foi para todos os países que os sediaram, mas e depois? Todos irão precisar a voltar às velhas questões básicas: quanto competitivo é o país, quando qualificada é a mão de obra? O Brasil de hoje não é o país de dez, nem sequer de cinco anos atrás.

A principal frustração de quem apostou aqui, por causa de muita propaganda, é que os problemas que o Brasil precisa resolver são muitos, muito grandes e não podem ser consertados de um dia para o outro. Países como o Brasil precisam de um plano mais decisivo de desenvolvimento e ninguém de fora, e mesmo aqui de dentro, está vendo isto. A questão é se o mundo vai continuar investindo nestes países, indecisos e incoerentes, se não perceber um retorno rápido nos seus investimentos. Ninguém que investe gosta de prazos longos. Você começa a falar em mais cinco anos, e todos vão para outros lugares.

Vendo de fora, através da leitura do noticiário doméstico, o Brasil parece um lugar seguro para investimentos lucrativos e estáveis, mas se a taxa de crescimento continuar a declinar significativamente, como tem ocorrido, qualquer um pode virar as costas rapidamente. Está cada vez mais difícil competir em um mundo que produz exportações baratas. Embora muita gente aposte no mercado de iates de luxo, por causa de o país ter um PIB elevado, isto não basta para ser uma potência econômica. Se a renda per capita de um país é baixa, ou se a sua disparidade de renda é muito alta, esse país claramente tem problemas. Por exemplo, a economia do Brasil é maior que a da Inglaterra, mas a economia britânica está em uma posição muito diferente em termos de desenvolvimento. O Brasil é uma potência entre outros mercados emergentes, mas isso não garante um lugar à mesa das potências mundiais. A questão fundamental é: será que o Brasil vai continuar sendo o país do futuro?

Criar potências, impérios e dinastias é um jogo difícil e sempre de longo prazo. Muitos países, impérios e dinastias crescem por períodos limitados e depois sucumbem. Países com o perfil do Brasil precisam ser honestos consigo mesmo e descortinar esses problemas. Isso vai torná-los menos atraentes? Talvez. Mas em longo prazo, é a melhor estratégia para resolvê-los. Quando alguém esta interessado em você, você não quer mostrar o seu lado mais feio, mas se não resolver seus problemas, um dia as pessoas vão descobrir.